segunda-feira, 14 de março de 2011

Setor da cana deixa de faturar R$ 7,5 bi com déficit de etanol
autor
Marcos Fava Neves
ano
2011
publicação
Folha de Sao Paulo

Concluiu-se a safra de cana processando no Centro Sul 555 milhões de toneladas, 2,4% a mais que na safra anterior. A produção de açúcar cresceu 16,82% e a de etanol 6,71%. Com preço maior (US$ 345 em 2009 e US$ 456 em 2010) e quantidade maior vendida (de 24,3 para 28 milhões de toneladas), as exportações de açúcar trouxeram US$ 12,7 bilhões e o complexo sucro-energético, US$ 13,7 bilhões, representando quase 20% do agronegócio.

A demanda mundial de açúcar cresceu quase 62% em 15 anos. Se continuarem estas taxas de crescimento são necessárias mais 50 milhões de toneladas/ano em 2020. O Brasil produz 40 milhões de toneladas por ano.

A cadeia sucro-energética teria mais renda sem o tropeço no etanol hidratado. Em 2009 o consumo interno foi de 16,5 bilhões de litros, e em 2010 caiu para 15 bilhões. O consumo da gasolina foi de 25,4 bilhões de litros em 2009 para quase 30 bilhões em 2010 e o pior, importou-se 505 milhões de litros de gasolina (contra apenas 22 milhões em 2009). Hoje o Nordeste esta importando etanol dos EUA.

Em 2010 foram vendidos mais de 3 milhões de carros e a frota flex chegou a 12,5 milhões, 43% do total brasileiro. Se 80% da frota flex usar etanol, o consumo anual seria de 20 bilhões de litros. Tem-se uma demanda anual reprimida de 5 bilhões de litros de hidratado. Em dois meses de 2011 foram vendidos 500 mil carros (12 mil carros por dia útil, um a cada dois segundos!), 15% a mais que em 2010. Até o final do ano a frota flex terá 15,5 milhões de ávidos integrantes e consumo potencial anual de 25 bilhões de litros de hidratado, com o déficit passando para 10 bilhões.

Um exercício com um preço hipotético do hidratado nas bombas de R$ 1,50/litro e lucro líquido de 10 centavos/litro na Usina, mostra que a cadeia sucro-energética está transferindo para a gasolina um faturamento anual de R$ 7,5 bilhões. No final de 2011, com o novo volume da frota, a cadeia sucro-energética deixaria de faturar anualmente R$ 15 bilhões e Usinas, de lucrar R$ 1,0 bilhão. Deve-se lembrar que 25% da gasolina é etanol anidro, portanto uma parte desta renda volta ao setor.

Esta lacuna é triste resultado da crise de preços e crédito de 2007/2008, que solapou cruelmente o endividado setor sucro-energético. O efeito mais pernóstico foi transferir o grande volume de investimentos (das tradings, petroleiras, fundos e outros) destinado a construção de Usinas novas (greenfields), para a compra de Usinas existentes (brownfields). Hoje o mercado clama por mais umas 15 grandes Usinas, que se aí estivessem, trariam toda esta renda para o bolso da cadeia sucro-energética.

Num cenário onde o consumo de açúcar, etanol, energia elétrica, plástico, diesel, entre outros, só tende a crescer, e com o petróleo atingindo US$ 100, Brasília precisa focar sua estratégia na cana.

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