quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Parlamento cobra explicações do governo sobre aplicação aérea de agrotóxicos


Uma semana após a Câmara Setorial da Soja defender que o governo altere a medida que condicionou a aplicação





Uma semana após a Câmara Setorial da Soja defender que o governo altere a medida que condicionou a aplicação, por aeronaves agrícolas, de produtos agrotóxicos que contenham os ingredientes ativos Imidacloprido, Fipronil, Tiametoxan e Clotianidina, o assunto mais uma vez voltou à agenda de discussões com o governo em Brasília. Na terça-feira (27), membros da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) encontraram-se com o secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), José Carlos Vaz. A defesa é por um "posicionamento mais firme do órgão" em relação à classe produtora, como define o presidente da FPA, Homero Pereira (PSD/MT). 


O uso foi autorizado, mas em caráter temporário para as culturas de arroz, cana-de-açúcar, soja e trigo até junho de 2013, e obedecendo períodos específicos. "O Mapa deve ter um posicionamento mais firme sob pena de comprometer a agricultura brasileira. Perdemos por conta de uma questão sem embasamento técnico", afirmou Homero ao Agrodebate. 

Durante encontro na capital federal, o representante do Ministério disse que o governo mantém uma rodada de conversações com seus agentes ambientais e busca uma solução ao empasse. "O ministério ficou de se reunir na próxima semana com o Ibama. Há uma preocupação que se os produtores aplicarem [os agrotóxicos] desta forma estarão transgredindo a lei", salientou ainda o presidente. 

Segundo Homero, a Frente Parlamentar da Agropecuária quer convocar a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, o Ministério da Agricultura e a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, para uma audiência que vai tratar do comunicado restritivo. 

De acordo com a decisão publicada no Diário Oficial da União (DOU), no dia 3 de outubro deste ano, a utilização de agrotóxicos foi autorizada, mas em caráter temporário para as culturas de arroz, cana-de-açúcar, soja e trigo até junho de 2013, e obedecendo a períodos específicos. No Centro-Oeste o uso dos materiais foi permitido entre 20 de novembro até 1º de janeiro de 2013. No Norte, de 1º de janeiro de 2013 a 20 de fevereiro de 2013. E no Sul, de 1º de dezembro de 2012 a 15 de janeiro de 2013. 

Além disso, o governo fixou condições para a liberação do uso aéreo no controle de pragas agrícolas. Entre elas, que as aplicações ocorreram em alturas inferiores a 4 metros. 

Para a soja uma única aplicação será permitida durante todo o ciclo de pragas em especial os percevejos (Piezodorus, guildinii, Euschistus heros, Nezara viridula). Já para as áreas de produção de sementes de soja ficam autorizadas duas aplicações permitidas para o controle agrícola em especial os percevejos. 

As regras para a aplicação nas lavoura de cana-de-açúcar restringe os produtores a uma única aplicação aérea durante todo o ciclo, que deve ser realizada 30 dias antes da colheita, quando houver a impossibilidade de entrada de equipamentos terrestres, para controle da cigarrinha da raiz (M.fimbriolata). 

Antes de realizarem as aplicações, no entanto, os produtores deverão informar os apicultores localizados em um raio de 6 km das propriedades onde os agrotóxicos serão aplicados, com antecedência de 48 horas. Em caso de mortandade de polinizadores ou a colapso de colmeias ocorridos em decorrência da aplicação por aeronaves dos produtos, especifica o ato, deverá ser notificada às autoridades. 

Prejuízos 

O setor produtivo de Mato Grosso estimava prejuízos de 4,2 milhões de toneladas de soja na safra 2012/13 e uma perda de R$ 5,92 bilhões que poderiam ser geradas em função do ataque de pragas e doenças pelo não uso de produtos para o combate. 

"Faltou empenho do Mapa [Ministério da Agricultura]. Um assunto tão importante e eles não tomaram posicionamento, mesmo tendo Embrapa para realização estudos aprofundados. Se há alguma restrição, que se faça somente durante o período de floração", defendeu Glauber Silveira, presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do país (Aprosoja Brasil).


http://www.cisoja.com.br/index.php?p=noticia&idN=14939 

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Valor da produção de lavouras pode chegar a R$ 297,9 Bi em 2013


A estimativa é que o VBP das principais lavouras em 2013 seja até 27,4% superior ao deste ano



Confirmando as expectativas de crescimento, a estimativa para este ano do Valor Bruto da Produção (VBP) das principais lavouras é de R$ 233,8 bilhões. Descontada a inflação, a elevação é 3% superior ao valor registrado no ano passado. Em 2013, o resultado deve ser ainda mais expressivo, podendo alcançar R$ 297,9 bilhões.

Entre as regiões, as que apresentaram o maior valor foram Centro-Oeste (R$ 68,5 bilhões), Sudeste (66,3 bilhões) e Sul (R$ 54,1 bilhões). No entanto, em acréscimos percentuais, as três primeiras colocadas são Centro-Oeste (30% em relação a 2011), Nordeste (14,4%) e Norte (9,6%).

Previsão para 2013

Os dados para a safra 2012/13 são calculados a partir dos levantamentos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que avalia a safra em 181,5 milhões de grãos, e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com projeção de 170,9 milhões de toneladas, divulgados na última quinta-feira, 8 de novembro. A diferença nas informações deve-se a metodologia usada pelas duas instituições e divergem principalmente nas previsões de milho e de soja.

A estimativa é que o VBP das principais lavouras em 2013 seja de R$ 289,5 bilhões, valor 23,8 % superior ao obtido em 2012. No entanto, a partir da previsão de plantio de algumas culturas divulgado pela Conab, esse valor pode atingir R$ 297,9 bilhões, resultado 27,4 % maior que o deste ano.

“O aumento acentuado previsto para o valor da produção é devido ao tamanho da safra esperada de milho e soja para o próximo ano, e também ao nível elevado de preços agrícolas”, destacou o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Mendes Ribeiro Filho. As duas oleaginosas são os produtos que mais afetam os resultados do faturamento da agricultura previsto para 2013.


Fonte: 

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Chuvas impulsionam plantio de soja no Brasil


Uma melhora no clima nas regiões produtoras de soja no Brasil impulsionou o plantio da oleaginosa da temporada 2012/13


Reuters

Uma melhora no clima nas regiões produtoras de soja no Brasil impulsionou o plantio da oleaginosa da temporada 2012/13, que vinha sendo prejudicado pela falta de chuvas em importantes áreas, afirmou nesta segunda-feira (12) consultoria Céleres.

O plantio avançou na última semana para 60% da área projetada no país, mas continua atrasado em relação a anos anteriores - a média de cinco anos para esta época é de 68 por cento - em função de precipitações insuficientes no mês de outubro.

Na comparação com o início do mês, quando 37% da área estava plantada, houve um salto na semeadura até a última sexta-feira.

Desde o início de novembro chuvas de mais de 200 milímetros voltaram a favorecer os produtores.

As necessárias chuvas atingiram principalmente a região Centro-Oeste, Sudeste e a porção norte do Estado do Paraná.

No caso dos Estados de Rio Grande do Sul e Santa Catarina, a situação era inversa e bastante parecida com o observado nas áreas de produção da Argentina, onde houve excesso de chuvas, observou a consultoria.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Valor da produção agrícola cresce 27% em 2011, diz IBGE



Valorização dos preços dos produtos foi o fator que mais contribuiu para o resultado; São Paulo lidera entre os Estados, e Sorriso (MT) entre os municípios
O valor da produção agrícola do País alcançou R$ 195,6 bilhões em 2011, crescimento de 27,1% em relação a 2010, aponta a pesquisa Produção Agrícola Municipal (PAM) 2011, divulgada nesta sexta-feira (26), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo como estudo, a valorização dos preços dos produtos agrícolas tanto no mercado interno quanto externo foi o fator que mais contribuiu para o resultado. Segundo o levantamento, a área plantada ultrapassou 68,1 milhões de hectares, avanço de 4,3% (2,8 milhões de hectares), impulsionado principalmente pela expansão da soja (3%), do milho (2ª safra) (54,7%) e do algodão herbáceo (69%).
Entre os principais produtos responsáveis pelo aumento no valor da produção, a análise do IBGE destaca a soja, com 34,9% de expansão no valor da produção; a cana-de-açúcar, que aumentou o valor em 38,6%; o milho, com crescimento de 46,4%; e o café, 40,1%. “Chamou atenção também o aumento de 76,2% do algodão herbáceo, que passou da 10ª para a 5ª posição em termos de valor de produção”, diz a pesquisa.
Estados e municípios
A análise do IBGE revela que o Estado de São Paulo manteve a liderança na participação nacional no valor da produção, mas sua contribuição caiu de 18,3% (R$ 28 bilhões de reais), em 2010, para 17,7% (R$ 34,6 bilhões) em 2011. Já Minas Gerais subiu da quarta para a segunda colocação, com uma participação de 12,7% (R$ 24,8 bilhões) em 2011.

Sorriso (MT), que havia caído de primeiro para terceiro lugar em 2010, voltou a ser o município com maior valor de produção, gerando R$ 1,9 bilhão, um crescimento de 105,4%. São Desidério (BA) foi o segundo colocado, com R$ 1,7 bilhão e crescimento de 59,9%.
Dos 64 produtos pesquisados, ressalta o estudo, três culturas responderam por 57,2% (R$ 111,8 bilhões) do valor da produção: soja, cana-de-açúcar e milho. A soja continua sendo a cultura com maior valor da produção (25,7% do valor total ou R$ 50,3 bilhões), seguida da cana-de-açúcar (20,1% ou 39,2 bilhões) e do milho (11,4% ou R$ 22,2 bilhões).

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

INDICADORES DE TENDÊNCIA CIMILHO (53) / Logística: os velhos problemas de transporte

Rubens Augusto de Miranda e João Carlos Garcia 

Pesquisadores da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo 

“A vitória é a flor mais bonita, brilhante e colorida. Transporte é o caule sem o qual ela nunca teria desabrochado”. Tais palavras foram ditas por Winston Churchill após o desembarque bem sucedido de milhares de soldados na Normandia em 6 de junho de 1944, o chamado dia D. Ao longo da história, vitórias foram conquistadas, civilizações e países se desenvolveram somente após resolverem problemas logísticos, especialmente no que se refere ao transporte. Não é segredo algum que a logística tem sido um dos grandes entraves ao desenvolvimento brasileiro, mas o que torna esse conhecimento tão incômodo é o fato de estarmos convivendo com esses problemas há décadas. Em algumas áreas, o país sempre mostrou uma grande capacidade de se adaptar e conviver “pacificamente” com os seus problemas, talvez pensando que princípios darwinianos naturalmente fariam o Brasil emergir como grande potência. Todavia, o lugar de relativo destaque do país na “Nova Ordem Mundial”, de crise das nações desenvolvidas e crescimento dos países emergentes, pode nos levar a crer que tal política tem dado resultado, mas fica a sensação de que poderíamos estar muito melhor com a solução desses velhos problemas. 

Sempre que o Brasil colhe uma safra recorde, os referidos problemas ficam mais aparentes, incomodam um pouco mais e a mídia dá uma atenção maior. O tempo passa e a cada nova safra os problemas persistem. Nesse sentido, no que tange à questão logística, a ocorrência de uma conjunção de fatores fez de 2012 um ano atípico, especialmente para o mercado de milho. A expectativa de recordes, tanto na safra dos Estados Unidos como na segunda safra de milho no Brasil, inicialmente provocou uma baixa nos preços do grão no decorrer dos meses de maio e junho. O quadro que se desenhava, com prejuízos e dificuldades de escoamento do milho no Centro-Oeste, foi revertido com a quebra de safra dos Estados Unidos. Assim, passou-se da abundância para a escassez de milho em algumas regiões no país, impactando diretamente a avicultura e a suinocultura, com a alta considerável dos seus principais insumos. Tal situação jogou novamente luz sobre a precariedade da logística de transporte no país. 

A região Centro-Oeste produziu 25 milhões de toneladas de milho na segunda safra de 2012, um aumento de 87,7% em relação ao ano anterior. O estado do Mato Grosso foi o grande responsável por esse aumento, colhendo 15 milhões de toneladas, quantidade 107% superior à do ano anterior. Se já não bastasse o aumento dos preços de transporte que se esperaria pelo aumento de demanda para escoar essa produção, em 17 de junho passou a vigorar a Lei 12.169/2012, que regulamenta a profissão de motorista. A nova lei determina que o motorista profissional trabalhe no máximo dez horas diárias ao volante e descanse 30 minutos a cada quatro horas. O resultado dessa nova realidade dos transportes no Brasil fez com que, somente no mês de agosto, o frete de Sorriso (MT) para o Porto de Paranaguá (PR) subisse 19,5%. O valor de R$ 245,00 no início de setembro é 60% superior ao do respectivo período em 2011. A dificuldade da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) em contratar serviços de transporte dos seus estoques de milho no Centro-Oeste para as regiões Sul e Nordeste exemplifica um pouco o caos instalado no escoamento de grãos no Brasil, que gera escassez em momento de grande disponibilidade interna. 



Dentre os grandes países produtores de milho, os custos de produção no Brasil na média são menores do que nos demais players, mas os gastos com transporte oneram consideravelmente o escoamento agrícola da grande região produtora, que é o Centro-Oeste. Há a expectativa de que, em poucos anos, a China se tornará o maior importador mundial de milho, superando o Japão, e comprará mais de 20 milhões de toneladas do grão por ano. Assim, comparar os custos de se transportar o milho é uma forma de analisar os países que têm melhores condições de suprir esse mercado. 

Segundo estudo da CentroGrãos (Central de Comercialização de Grãos), da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso, o custo de transporte de Santos para a China, U$45/t, é inferior ao observado em Rosário-Argentina para o mesmo destino, U$66/t, e de Nova Orleans-EUA também para a China, U$46/t, onde estão localizados portos de dois dos nossos maiores concorrentes. Sem considerar as dificuldades de armazenagem e as conhecidas filas de carregamento, um dos problemas do Brasil é levar grãos aos portos. Esse mesmo estudo ressalta que o transporte de milho de Sorriso-MT para Santos-SP fica em U$130/t, enquanto que o transporte da grande região produtora de Córdoba para Rosário, na Argentina, não sai por mais de U$36/t, apesar de também ser feito por via rodoviária. Os custos de transporte nos Estados Unidos, que possuem dimensões continentais como o Brasil, são ainda menores. O trajeto Illinois-Nova Orleans é feito por via hidroviária ao custo de apenas U$25/t. Ao contrário do Brasil e da Argentina, que utilizam a rodovia como principal matriz de transporte, nos Estados Unidos o transporte de carga é feito basicamente por hidrovia, 60% do total, e ferrovia, 35% do total. Por ser um país menor, a Argentina sofre menos com os altos custos rodoviários quando comparado com o Brasil, mas a questão é que esses dois países usam modais inadequados para o transporte de grãos. Segundo a CNT (Confederação Nacional do Transportes), no Brasil, o segmento rodoviário é responsável por 61,1% da carga transportada, tendo como agravante o nosso baixo percentual de estradas pavimentadas. Apenas 260 mil quilômetros de rodovias são pavimentadas, frente a um universo de 1,6 milhão quilômetros de estradas. Esse percentual de pavimentação chega ser quatro a cinco vezes menor do que o observado nas outras potências emergentes do chamado BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). 

Iniciativas - Para mudar esse quadro, o governo brasileiro vem mostrando interesse de investir em novos sistemas de logística, como hidrovias. Para tanto, ressuscitou um plano da década de 1990, a hidrovia Tapajós-Teles Pires, que permitirá escoar a produção de grãos do Mato Grosso para o mar aberto pelos portos de Santarém e de Itaituba, ambos no Pará. O Ministério dos Transportes coloca como prioridade a instalação de eclusas (mecanismos para transposição de níveis dos rios) que permitam a navegação de carga na hidrovia e, em maio de 2012, sinalizou que disponibilizaria R$2 bilhões para a construção de quatro. Segundo a Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso), com a hidrovia, o custo de transporte da tonelada de grãos cairia de R$227 para R$60. A queda acentuada nos custos de transporte permitiria uma economia anual no patamar de R$2 bilhões. Há quem diga que essa hidrovia faria com que os rios Teles Pires e Tapajós adquirissem a mesma importância que o Mississipi tem para os Estados Unidos. 

Devido à importância e o potencial de impacto econômico, é de se estranhar que o projeto da hidrovia Tapajós-Teles Pires nunca tenha saído do papel. Na verdade, o projeto nunca chegou ao papel, pois somente em setembro de 2012 ocorreria a licitação para o estudo de viabilidade econômica, que faria as projeções dos gastos da obra. Ou seja, apesar de já haver estimativas sobre a economia que a hidrovia proporcionará, ainda não se sabe quanto a mesma custará. Infelizmente, a licitação ainda não ocorreu, pois foi adiada a pedido do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes). Apesar do referido Departamento não ter se pronunciado sobre as razões do pedido de adiamento, fontes indicam que o custo de R$14 milhões previsto para o projeto foi considerado baixo pelos interessados em concorrer na licitação. A inexistência de um projeto não é o único entrave à construção da hidrovia, pois há uma série de outros conflitos, como proibições judiciais para estudos e até complicações pelo fato de que parte do trecho passa por uma reserva indígena. Além disso, têm ocorrido alguns desentendimentos entre o setor de energia e o Ministério dos Transportes no que tange ao aproveitamento hidroelétrico em vários pontos da futura hidrovia. O problema é que a adequação das usinas hidroelétricas ao projeto de hidrovia pode atrasar o cronograma já existente no Plano Nacional de Energia 2030, o que é mais um nó para o governo desatar. 

Outra importante via potencial de escoamento dos grãos do Centro-Oeste é a Ferrovia Norte-Sul. Quando concluída, passará pelos estados do Pará, Maranhão, Tocantins, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso do Sul, alcançando quase 2.000 km de extensão. O início das obras da ferrovia data de 1987 e ainda não há previsão de término (embora já tenha chegado ao estado de Goiás), algo inadmissível para empreendimento tão importante para o desenvolvimento do país. O fato de estar parcialmente construída não implica em que ela esteja sendo usada em seu potencial, mesmo nos trechos já terminados. Uma série de obras nas vias secundárias de alimentação de cargas e de infraestrutura de embarque a granel ainda é necessária. Felizmente, as obras foram impulsionadas com a concessão da ferrovia à Vale em 2007. A Vale Logística (VLi), criada em 2011, tem utilizado a infraestrutura da Ferrovia Norte-Sul e da Estrada de Ferro Carajás, que se cruzam em Açailândia (MA), para escoar não apenas minério de ferro, mas também grãos até o Porto de Itaqui, em São Luís do Maranhão. A intenção da empresa é, pelo menos, dobrar o escoamento de grãos pela sua malha ferroviária, que até recentemente ficava na casa de 50 mil toneladas por mês. 

O setor privado tem adquirido consciência de que também precisa participar mais ativamente no entendimento e na solução de problemas. Pensando nisso, entidades dos setores agropecuário, industrial, comercial e da sociedade civil organizada de Mato Grosso criaram o Movimento Pró-Logística em 2009, que objetiva realizar estudos e acompanhar investimentos que possibilitem solucionar os problemas logísticos do estado. Uma das primeiras ações do movimento foi eleger a Hidrovia Teles Pires–Tapajós, a Ferrovia Centro-Oeste, as BRs 163, 242 e 158 como projetos de máxima importância. Em 2012, o estudo intitulado "Corredores Estaduais do Agronegócio" elegeu 120 trechos de rodovias estaduais que são fundamentais para o escoamento da produção de grão dos estados, dos quais 21 foram indicados para os investimentos imediatos, que necessitariam de um aporte de R$82 milhões do governo do estado. 

A maior parte da movimentação que vem sendo feita para melhorias logísticas tem como foco o escoamento da produção para exportação. Entretanto, não se pode esquecer o desabastecimento interno recorrente em algumas regiões do país. O Nordeste, que é sistematicamente deficitário na produção e no consumo de milho, tem recebido pouca atenção nos projetos de logística de transporte. Demandam-se melhorias na hidrovia do São Francisco, que pode transportar milho para Pernambuco (grande consumidor), e na BR-020, via de escoamento da produção de milho de Goiás para o Ceará e que possui trechos nãos asfaltados. 

Iniciativas como o Movimento Pró-Logística são importantes não apenas por auxiliarem o governo no direcionamento dos seus investimentos, como também por criarem um movimento de pressão para que as obras sejam feitas e não tenhamos que conviver décadas com a presença indesejável dos referidos problemas. Muito se fala do potencial brasileiro para se tornar o celeiro do mundo. Mas do que adianta produzir se não temos como transportar a produção? A super safra de grãos 2012 está aí para nos dar uma lição; resta saber o que aprenderemos da mesma. 

Fonte: Boletim Informativo do Centro de Inteligência do Milho - Ano 5 - Edição 53 - Outubro de 2012