segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Europa usa milho transgênico como moeda para obter trigo

Os leilões de Prêmio para Escoamento de Produto (PEP) para o milho brasileiro podem ganhar novo impulso com a decisão da União Europeia (UE) de abrir seu mercado para o grão transgênico. No entanto, o maior beneficiado com a medida deve ser os EUA, que têm a chance de aumentar os embarques para o bloco.O mercado nacional entendeu a medida da UE como política de boa vizinhança. De acordo com Aedson Pereira, analista de mercado da AgraFNP, a Europa abriu o comércio transgênico de milho por estar de olho no trigo internacional. "A região terá quebra de safra do cereal, assim como a Rússia, o Canadá e a Austrália. Tanto que a cotação do trigo já subiu 5%", diz Pereira, lembrando que trata-se no maior ganho percentual mensal em julho desde, pelo menos, 1959.Nos Estados Unidos, o volume de milho geneticamente modificado responde por 90% da produção interna. "Para a Argentina, a Europa também é um mercado atrativo", afirma o analista.De acordo com a assessoria de comunicação da Monsanto, que teve duas de suas variedades de milho transgênico liberadas pela Comissão Europeia, os cultivares ainda não chegaram ao Brasil. A assessoria também informou que as tecnologias existem apenas nos EUA e estão à frente da segunda geração de milho, recentemente lançada no País.Para Odacir Klein, representante coorporativo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), a União Europeia liberou o milho geneticamente modificado por falta de opção. "A decisão foi um avanço, e uma adaptação às condições de mercado", afirma.Por outro lado, de acordo com Pereira, a decisão da Europa também deve favorecer o escoamento da safra de milho brasileiro.A comercialização do grão nacional é realizada hoje quase totalmente por meio do PEP, intermediado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). "A medida dos europeus abre caminho para que outras variedades sejam importadas, mas os destinos para o milho nacional serão os mesmos", diz o analista, considerando a possibilidade de os europeus também comprarem o produto brasileiro. "Eles (Europa) devem até comprar alguma coisa nossa, mas o montante não será significativo", diz.Segundo o analista, 90% dos leilões da Conab destinam o milho para exportação. Dados da AgraFNP mostram que 80% do milho exportado pelo Brasil vai para Irã, Arábia Saudita, Malásia, Marrocos e Coreia do Sul. "As exportações brasileiras não são focadas na Europa, e sim no Oriente Médio e países árabes", diz.Estatística da AgraFNP aponta que, de janeiro a junho de 2010, o Brasil já enviou 611,9 mil toneladas de milho para o Irã, 248,4 mil toneladas para o Japão, 215,9 mil toneladas para Taiwan e 196,4 mil toneladas para Marrocos. A Arábia Saudita comprou 76 mil toneladas e a Coreia do Sul, por enquanto, 52,6 mil toneladas.A AgraFNP estima, ainda, que o Brasil deve embarcar sete milhões de toneladas de milho até o fim do ano. "O milho transgênico no Brasil ainda está em processo de adaptação, principalmente na safrinha", comenta, lembrando que, para esta temporada, 20% da safra nacional será de milho modificado. "Como a produtividade do milho geneticamente modificado foi positiva, a tendência é que produtor brasileiro cultive cada vez mais variedades". No entanto, Klein, da Abramilho, aposta em 50% da safra de milho nacional transgênico.Para o analista, a medida pode ainda provocar um aumento nas cotações do grão norte-americano e refletir no Brasil. "As cotações externas podem se fortalecer. Como os traders têm participação nos leilões, os preços aqui podem se tornar mais atrativos".Cenário AtualO último levantamento feito pela Conab registrou, para a primeira safra (verão), 2009/2010, uma produção de pouco mais de 34 milhões de toneladas de milho, 1,2% maior do que foi colhido na safra anterior. A safrinha deve render 19,4 milhões de toneladas. Para a Conab, a retração na safra de verão se deve a grande oferta do produto no mercado e aos preços praticados abaixo do mínimo estipulado pelo governo federal.

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